terça-feira, 21 de junho de 2011

O Acordo de Londres de 1953 deveria ser lembrado

Apropósito de bom senso, atentem neste texto sobre as orientações que ficaram consagradas no acordo de financiamento da recuperação da Alemanha Ocidental, depois da II Guerra Mundial:0 Acordo de Londres de 1953 sobre a divida alemã foi assinado em 27 de Fevereiro, depois de duras negociações com representantes de 26 países, com especial relevância para os EUA, Holanda, Reino Unido e Suíça, onde estava concentrada a parte essêncial da dívida.
A dívida total foi avaliada em 32 biliões de marcos, repartindo-se em partes iguais em dívida originada antes e após a II Guerra.Os EUA começaram por propor o perdão da dívida contraída após a II Guerra. Mas, perante a recusa dos outros credores, chegou-se a um compromisso. Foi perdoada cerca de 50% da dívida e feito o reescalonamento da dívida restante para um período de 30 anos. Para uma parte da dívida este período foi ainda mais alongado. E só em Outubro de 1990, dois dias depois da reunificação, o Governo emitiu obrigações para pagar a dívida contraída nos anos 1920.
O acordo de pagamento visou, não o curto prazo, mas antes procurou assegurar o crescimento económico do devedor e a sua capacidade efectiva de pagamento.
O acordo adoptou três princípios fundamentais:
1. Perdão/redução substantial da dívida;
2. Reescalonamento do prazo da divída para um prazo longo;
3. Condicionamento das prestações à capacidade de pagamento do devedor.
O pagamento devido em cada ano não pode exceder a capacidade da economia. Em caso de dificuldades, foi prevista a possibilidade de suspensão e de renegociação dos pagamentos. O valor dos montantes afectos ao serviço da dívida nao poderia ser superior a 5% do valor das exportações. As taxas de juro foram moderadas, variando entre 0 e 5 %.
A grande preocupação foi gerar excedentes para possibilitar os pagamentos sem reduzir o consumo. Como ponto de partida, foi considerado inaceitável reduzir o consumo para pagar a dívida.
O pagamento foi escalonado entre 1953 e 1983. Entre 1953 e 1958 foi concedida a situacao de carência durante a qual só se pagaram juros.
Outra característica especial do acordo de Londres de 1953, que não encontramos nos acordos de hoje, é que no acordo de Londres eram impostas também condições aos credores - e não só aos paises endividados. Os países credores,obrigavam-se, na época, a garantir de forma duradoura, a capacidade negociadora e a fluidez económica da Alemanha.
Uma parte fundamental deste acordo foi que o pagamento da dívida deveria ser feito somente com o superavit da balança comercial. 0 que, "trocando por miúdos", significava que a RFA só era obrigada a pagar o serviço da dívida quando conseguisse um saldo de dívisas através de um excedente na exportação, pelo que o Governo alemão
não precisava de utilizar as suas reservas cambiais.
EM CONTRAPARTIDA, os credores obrigavam-se também a permitir um superavit na balança comercial com a RFA - concedendo à Alemanha o direito de, segundo as suas necessidades, levantar barreiras unilaterais às importações que a prejudicassem.
Hoje, pelo contrário, os países do Sul são obrigados a pagar o serviço da dívida sem que seja levado em conta o défice crónico das suas balanças comerciais (Marcos Romão, jornalista e sociólogo, 27 de Fevereiro de 2003).
Ou seja, há sete ou oito anos o mundo só falava das dívidas dos países do Hemisfério Sul. Lembram-se dos perdões parciais ou recusa deles em relação a países africanos?

3 comentários:

  1. A história não mente. O passado tem raízes de ensinamentos que os supostos "iluminados" do conhecimento de hoje, que não passam de elegíveis incompetêntes, não querem ler nem perceber. Talvez por isso estejamos de um modo geral entregues a uma elite de elegiveis, quais cavaleiros da triste figura. Seria de todo bom que os verdadeiros actores de figura económica podessem entrar em cena com uma liberdade de acção que excedesse as motivações destes académicos que nos regem.Como o passado não pode mentir, pois como passado é imutável,tenhamos a lucidez e bom senso de absorver o conhecimenmto transitado, e negarmos com veemência os erros para honrarmos o nosso prório futuro. Bem hajam todos quantos têm humildade para divulgar textos como este, pois o poder e as armas que ele transporta vive sobre patamares dessa mesma humildade, a que verdadeiramente dignifica os homens. Como o tema transborda, e incisivamente é a nossa realidade do presente, e que nos arrastará por um longo futuro, estejamos atentos, pois o credor que não ajudar a viabilizar o "infeliz", nunca saberá se não será ele o "infeliz" que amanhã precisará... Quem julga não está livre de vir a ser julgado... Quem manda não está livre de vir a ser mandado... Sejamos sábios, deixemos trabalhar a arte ao artista, e todos teremos um espaço de excelência no futuro. Bem haja o poeta que também sabe dizer. Abraço Amigo.
    (José Garcia)

    ResponderEliminar
  2. De facto, por mais que a ciência e a tecnologia evoluam, o carácter humano e a sua mais extravagante característica (a ganância) denotam claros sinais de retrocedo. E penso que muitos, se não for a esmagadora maioria, esquecem-se da Lei Universal: o que se semeia, colhe-se!

    Assim vemos o que se passa no 'velho continente', outrora o poço da sabedoria e da riqueza, hoje fraqueza do mundo e da sua economia! E mais: existem países africanos, nos dias de hoje, que estão financeiramente bem posicionados para em breve tornarem-se potências económicas e sociais!

    O artigo está excelente e foca inteligentemente a situação económica da Alemanha, pós I Guerra Mundial. A intenção era a reconstrução, o desenvolvimento e a possibilidade dos países 'credores' poderem ganhar alguma coisa com a situação. Ou seja negócio.

    Depois da II Guerra Mundial, o intuito já era outro: o lucro e o agrilhoamento da Alemanha.

    E nos dias de hoje? O lucro, custe o que custar e a quem custar!

    E o pior? É que a base é a mesma de sempre, que apodreceu de tão incorrecta!

    O que precisamos? Mudança de paradigma, de atitude, de postura... começar por admitir que este caminho vai levar sempre ao mesmo e que é necessário largar as demagogias!

    Há um caminho! Há uma saída! Há um paradigma que funciona desde a fundação do mundo e que ainda hoje opera com resultados!

    Continue a escrever, porque mais pessoas precisam de ler estas coisas, porque a verdade nunca pode ficar apenas nos livros... É preciso que fique nos corações!

    Abraço! Jv

    ResponderEliminar
  3. Dou meus sinceros parabéns e acima de tudo a capacidade de relembrar os princípios gerais e extremamente importantes deste acordo, assinado em 1953 entre a Alemanha, sempre imperial, como se vê ainda nos dias de hoje, e mais 26 países. Que diferença de atitude, de mentalidade e de perspectiva de futuro para com as gerações seguintes. A história nunca será esquecida e será sempre lembrada. Que diferença entre a ajuda a Alemanha de então, que tinha saído de uma guerra imposta por um ditador contra povos e raças. Será que os actuais governantes neo liberais Alemaes se lembram deste acordo que teve um prazo tão dilatado, com condicoes benevolentes e que quis acima de tudo que o pais crescesse economica/financeiramente para gerar excedentes e o consumo não fosse reduzido ?Não será que a Alemanha de hoje, o seu poder económico, a sua estrutura, o seu crescimento , não se deveu a superior visão dos políticos de então? Lendo este artigo, tão actual e tão antigo, nos leva a pensar no nosso pequeno pais e aquilo que os nossos parceiros da Europa central, dos mais ricos, dos especuladores, desejam a estes "periféricos" e que tantas vezes nos tratam como lixo ou como povo de somenos importância. Não seria melhor dar aos países que estão com dificuldades de cumprir com as suas obrigações, que tem problemas de défice e em que a balança comercial e negativa , com crescimento muito baixo , nulo ou negativo, em recessao ou a sair dela, dar as condicoes que tiveram, por exemplo, neste acordo a Alemanha de entao?Poderemos discutir qual o melhor caminho que a crise financeira, a crise da ganância, da especulação, do querer ganhar mais e mais, sem se pensar nos resultados, a tomar. Que futuro podem vir a ter os pequenos países, a economia em geral, as financas e acima de tudo as pessoas? Que diferença entre os Homens de então que elaboraram este acordo e os homens actuais que nada perdoam e tudo querem. Será que teremos possibilidade de pagar a nossa divida, com o acordo atual? Teremos salvação?Teremos condicoes para cumprir com o acordo? Teremos mais tarde ou mais cedo de renogociar a nossa divida, de sair do euro, de sermos novamente nos próprios, de fecharmos as nossas portas?E as nossas exportações, que medidas a tomar para que a balança comercial mude, para que as exportações aumentem, conseguiremos também ter superavit?
    " O mundo só falava das dividas dos países do Hemisfério Sul. Lembram-se dos perdoes parciais ou recusa deles em relação a países africanos ? " (artigo do Conhen)
    Eu pergunto, mudara ou ja se mudou para o hemisferio norte? Que será de nos, e acima de tudo qual o futuro dos nossos filhos e futuras gerações? Que visão tem os nossos políticos, os nossos governantes, não só a nível nacional mas também a nível europeu e mundial?
    A luz só e dada/revelada a quem a merece.
    Parabéns e abraço.
    Reinaldo Oliveira

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.